Para Chico Alencar, 2017 começa com ‘nuvens carregadas’ para governo Temer

Jornal do Brasil
O próximo ano começa com “nuvens negras” para o governo de Michel Temer (PMDB), acredita o deputado federal Chico Alencar (Psol). O parlamentar critica as medidas propostas pelo Executivo, “reveladoras” do caráter do governo, fala sobre os pedidos de impeachment e comenta sobre o apoio do PSDB, que pode mudar de lado de acordo com o avanço da Operação Lava Jato. A entrevista ao JB foi dada antes das revelações da noite de sexta-feira (9) sobre delação de executivo da Odebrecht, que cita diretamente Michel Temer.
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Sobre os pedidos de impeachment de Michel Temer, Chico Alencar espera que o presidente Rodrigo Maia faça uma análise, mas diz que “não há indicação neste sentido”. Ele também destaca, contudo, que não vê chances de Maia fazer como o antecessor Eduardo Cunha e usar os pedidos “como trunfo para chantagear” o governo “em torno dos seus interesses”. “Eu acho que disto estamos livres.”
“Espero que ele [Rodrigo Maia] analise com objetividade a substância dos pedidos de impeachment”, diz Chico Alencar. “Entendo que esses pedidos, numa primeira visão, não seriam acatados por Maia, mas, com a evolução da conjuntura, isso pode acontecer. A crise econômica tem um papel determinante, 2017 começa com nuvens carregadas para cima do governo Temer.”
Questionado sobre uma suposta articulação política para favorecer eleições indiretas, o deputado federal destacou que não tem conhecimento sobre isto, mas que acredita que trata-se de um jogo de “avanço e recuo”.
“O PSDB está cada dia mais desconfortável no apoio a este governo. Está de novo subindo para o berço predileto, que é o muro. E, depois do muro, pode mudar para algum lado, a depender da evolução da conjuntura econômica e da Operação Lava Jato, que tem um reflexo direto na conjuntura política”, avalia Chico Alencar.
Renan e STF
Chico Alencar aponta que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter Renan Calheiros no comando da Casa é “revelador” de como o cenário jurídico está “desarrumado”. Na ocasião, o Supremo decidiu que o peemedebista não pode assumir a Presidência da República numa eventual saída de Temer.
“Isto é casuísmo, vale a decisão para este caso específico, eu nunca vi isso”, destacou o deputado sobre o “supremo jeitinho que se deu”, a partir de considerações políticas e econômicas, para que “ninguém menos do que Renan Calheiros fosse considerado pela maioria da Alta Corte uma figura insubstituível”.
O deputado acrescenta que o Supremo acabou chamando para si os ecos do “Fora, Renan!” e se desgastando perante a opinião pública, o que “é muito ruim para o país”.
PEC 55 e reforma do ensino médio
Chico Alencar também comenta que o governo de Michel Temer toma iniciativas, como a reforma do ensino médio e a PEC do Teto de Gastos, de acordo com o seu próprio caráter — uma coalizão de políticos tradicionais, velha, clientelista, de investigados, privatistas “com total convicção”, adeptos do Estado mínimo.
“Essa reforma do ensino médio confunde os princípios pedagógicos mais elementares”, alerta o deputado. “É o típico caso que a forma deforma o que se pretende como reforma. Além do mais, no substitutivo da própria reforma, tem um aspecto anti-humanista e de retorno ao acesso à universidade para poucos, condenando os mais pobres a ensino técnico profissional de nível médio”, completa Chico Alencar.
“O mesmo governo que diz querer valorizar magistério propõe uma PEC de contenção de gastos de educação, o que é contraditório”.
Para o deputado, outro absurdo é a rapidez e a “voracidade” com que é encaminhada a PEC do Teto de Gastos no Senado. “No dia seguinte, já tem relator que diz que o relatório está pronto, com indício de que o relatório foi feito pelos técnicos do Executivo”, frisa. “A voracidade de fazer isso a toque de caixa é uma ofensa para todos.”