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Ascom Secult/Ceará
A
partir de projetos desenvolvidos pelo Hub Cultural Porto Dragão, vários nomes
cearenses levam sua diversidade sonora para o Porto Musical (PE) e festival
“Vem, Futuros! Verão”, da Oi Futuro (RJ)
Entre janeiro e fevereiro, dois importantes
eventos do mercado musical brasileiro conhecerão o corre e talento de vários
nomes da cena autoral cearense. No palco, mentes criativas ligadas ao hip hop,
samba, reggae, música instrumental, MPB, rock, dentre outras vertentes sonoras.
Oportunidade para circular, desbravar ideias
e projetar futuras oportunidades com outros profissionais do ramo. A projeção
dos nomes locais acontece por meio da movimentação e parcerias desenvolvidas
pelo Hub Cultural Porto Dragão, equipamento da Rede Pública de Equipamentos
Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria
com o Instituto Dragão do Mar (IDM).
O primeiro destino de 2024 é a capital
fluminense. Em ação com a Oi Futuro, tendo como base o programa “Difusora”, que
atua em estratégias de intercâmbio entre artistas, produtores e agentes
culturais, o Hub promoveu shows da banda Procurando Kalu e do rapper e poeta
6utto no festival “Vem, Futuros! Verão” (RJ), que acontece nos dias 17, 24 e 31
de janeiro.
Com dez anos de estrada, o grupo sobralense
de art-rock foi atração do primeiro dia de shows do evento e fez elogiado
concerto no dia 17 de janeiro. Já 6utto desembarca no Oi Futuro com o primeiro
trabalho na bagagem (o disco “Malandragem”) e show agendado para esta
quarta-feira (31), fechando a conta do festival.
Com a chegada de fevereiro, outro destaque é
a participação de outros 11 nomes da cena musical do Ceará no evento Porto
Musical (PE), uma das mais relevantes feiras de negócios do mercado fonográfico
no País. Nesta quinta-feira (1º), o concerto “Invasão Cearense” reúne Agê, Ayla
Lemos, Carla Ribeiro, Dextape, Diego Silvestre, Lorena Nunes, Luiza Nobel,
Marcvs Av, Thais Costa, Zé de Guerrilla e
discotecagem de Tauí Castro.
Cada participante possui uma trajetória única
nos palcos e estúdios. A formação coletiva, produzida especialmente para esta
edição do Porto Musical, revela a riqueza de sons em atividade no Ceará. A ida
desses talentos acontece de forma conjunta com o Centro Cultural do Cariri,
equipamento da Secult Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante de
Cultura e Arte.
Além do concerto, os artistas estão
credenciados e podem acompanhar a programação oficial da feira, repleta de
conferências, oficinas e pitchings. Este mergulho no Porto Musical, que
acontece até 3 de fevereiro, é uma oportunidade para divulgar os trabalhos e
realizar trocas com destacados profissionais da indústria.
Circular e encantar
Diretamente de Sobral (240 km de Fortaleza),
Procurando Kalu investiga uma estética surrealista inspirada no Sertão Norte do
Ceará. Atravessa referências e linguagens da música, performance, artes visuais
e moda. Nesta trajetória, participaram de renomados festivais e plataformas
como Maloca Dragão, Cultura Livre, Grito, Mostra AMP e Porto Dragão Sessions.
Zeca Kalu compartilha impressões acerca do trabalho do grupo
no “Vem, Futuros! Verão”. “Acredito muito na potência do palco para esse
aprimoramento, para tornar o trabalho mais consistente para o público e
artistas. Essa troca, a partilha do processo criativo com o público é
importante nesse sentido, pois serve como termômetro de várias coisas. Das
criações, dos arranjos, da receptividade do público, de quem é o seu público,
de conhecer essas pessoas”, destaca.
O saldo, avalia, é positivo em diversas
frentes de produção e revela como um projeto voltado a circulação amplia a
troca de saberes e ideias com artistas de outras cidades. Em outra esfera,
também agrega ao portfólio, entrega novos ares ao processo criativo.
“Circular o som, seja dentro do estado ou
fora, nos interiores como é o nosso caso, pois somos uma banda de Sobral, é
importante. Causa efeito de reencantamento com o processo criativo, fazendo
você lançar um olhar mais atento para sua obra. É como abrir sua casa. Então,
você vai circular, abrir sua casa para que outras pessoas possam ouvir os sons
da sua casa, ouvir o que você fala”, divide Zeca Kalu.
Nesta quarta-feira (31), o “Vem, Futuros!
Verão” recebe o rapper e poeta 6utto. O artista é filho do bairro Sapiranga, em
Fortaleza. Em 2020, lançou “Pra você” e “Deixa os menino sonhar”, canções que
lhe renderam convite de Bráulio Bessa para participação na série documental
“Poesia que transforma” (2021).
Em 2022, lançou as faixas “Blackcat”,
“Garoupa” e “Eu vou vencer”. No início de 2023, o artista lança o seu primeiro
EP, “Parábolas de Favela”, que conta com 4 faixas e traz o discurso de fé,
sonho e esperança, alertando do preconceito racial e periférico. 2023 marcou o
primeiro álbum cheio, “Malandragem”, também disponível em todas as plataformas
digitais.
Nas palavras do rapper, é grande a vontade de
ver o calor do público e como eles podem sentir o que ele passa nas músicas.
“Sei que será uma troca muito massa, se ligou. A expectativa é das melhores e
acho importante essa circulação dos artistas”, avalia, poucas horas depois de
pousar no Rio de Janeiro.
Projetos que viabilizam o intercâmbio, conta,
deveriam ser uma realidade nacional para os realizadores e realizadoras
independentes. “É vital trazer outras perspectivas para artistas que necessitam
disso. É uma grande porta que se abriu para mim, para a minha arte, para o
artista que eu sou. Vai ser muito massa. Vamo que vamo”, avisa 6utto.
Anteriormente, Procurando Kalu e Gutto
participaram do “Zona de Criação”. Esta iniciativa do Hub Cultural Porto Dragão
propõe a realização de material audiovisual como portfólio artístico. A partir
da articulação local realizada, a curadoria da Oi Futuro escolheu os artistas.
“Com a Oi Futuro, nós temos agora um novo
canal de circulação para os nossos artistas, com o objetivo de difundir e
ampliar a sua capacidade de inserção no mercado nacional”, explica Ivan
Ferraro, gestor de Economia Criativa do Hub Cultural Porto Dragão.
Várias vozes, um Ceará
Realizado desde 2005, o Porto Musical reúne
um público interessado em criação de redes, contatos, trocas de conhecimentos e
geração de negócios. Em 2023, uma delegação composta por dez representantes de
festivais canadenses, além de representantes do renomado festival europeu
“Womad — World of Music, Arts and Dance”, marcam presença.
O show “Invasão Cearense” acontece nesta
quinta-feira (1), às 22h, no Terra Café Bar (Recife / PE). Em meio aos últimos
preparativos para o evento, conversamos com Dextape e Carla
Ribeiro. Naturais do Cariri cearense, cada participante traz
observações acerca da iniciativa e do processo criativo que uniu tantas mentes
talentosas.
Apreciador/consumidor da cultura Hip-Hop
desde 1998, Luciano Barbosa, de nome artístico Dextape, é MC ativista da região
do Cariri cearense. Focado na valorização do som e experimento de novos
conceitos, atua como artista multilinguagem. Adentra também o universo da
literatura, propondo oficinas que incentivam à leitura e auxiliam na formação
literária.
“O show foi formatado pensando a pluralidade,
ecleticidade e mistura heterogênea que é a musicalidade do estado. Vai da
cumbia cearense ao reggae, ao hip hop — ritmos mais contemporâneos —, R & B
e blues. Pensa também nestas novas musicalidades que permeiam os rincões do
Ceará, desde as regiões metropolitanas do Cariri e da Grande Fortaleza”,
descreve.
Cantora e compositora, Carla Ribeiro acabou
de lançar seu primeiro trabalho autoral, o disco “Corpo Aberto”. A partir de
suas performances e tributos, vem colecionando festivais na carreira e venceu a
última edição do Festival Cariri da Canção com o single “Olhos Grandes”.
A oportunidade de sair da região e apresentar
o trabalho em outro estado, com outros artistas, é fundamental na carreira do
artista independente, pois somos ‘nós por nós’. Se dependesse só de mim, não
conseguiria por questões financeiras ou não conhecer as possibilidades”,
descreve a artista entrevistada.
Carla Ribeiro reforça a importância de mais
projetos de circulação em atividade. “Movimenta o cenário, faz os artistas
saírem do circuito do estado. É importante para ganhar experiência, ganhar nome
e fazer contatos”, completa Carla Ribeiro.
O objetivo da apresentação é fazer com que
cada artista divulgue a potência e o que tem de melhor dentro da sua linguagem.
“Nossa ideia, da ‘Invasão Cearense’, é colocar o estado no mapa do circuito da
arte, da música em específico. Para que consigamos colocar na galera que o
Ceará, como o Nordeste todo, é uma potência. É também pensar novas relações de
consumo da música, com a arte, com os artistas cearenses”, afirma Dextape.
Com outros nomes reunidos, uma edição do show
“Invasão Cearense” foi realizada no ano passado na Semana Internacional de
Música de São Paulo, a “SIM São Paulo”. Naquela oportunidade, o concerto reuniu
Nego Gallo feat Emiciomar, Mateus Fazeno Rock, Mumutante, Lorena Nunes, Rafael
Martins, Xavier feat Beiramaquina, DJ Bia Turri, DJ Val Pescador e Leo Suricate
como apresentador.
Para o Porto Musical, o Hub Cultural Porto
Dragão recebeu proposta de continuação da atividade realizada na “SIM São
Paulo”. A produtora apresentou uma lista de artistas e a curadoria para esta
segunda edição do show foi realizada em conjunto.
“Expandir as possibilidades de negócios e
qualificar a atividade profissional na área cultural. O Porto Musical é um
evento que possibilita apresentar esse recorte da música cearense para
programadores de festivais, mas também possui espaços de reflexão sobre o
mercado musical e os processos criativos na música”, divide Leo Porto, gestor
executivo do Hub Cultural Porto Dragão.
Show “Invasão Cearense”
Agê é compositor e produtor musical
multi-instrumentista, graduando em Composição pela UECE. Nascido em Fortaleza,
atua na cena cultural da cidade desde 2017. Já colaborou com OutraGalera,
Mateus Fazeno Rock, Mumutante, Di Ferreira, Otto e Silvero Pereira. Em 2021,
lançou seu primeiro single e, desde então, segue desenvolvendo uma sonoridade
rebuscada do neo-soul, R&B e hip hop.
Ayla Lemos é multi-instrumentista, cantora e compositora
natural de Fortaleza, Ceará. Iniciou sua carreira como baterista de forma autodidata
e logo em seguida começou a tocar em projetos musicais pela cidade. Desta
experiência, agregou à sua musicalidade a vivência com artistas de gêneros
variados. Em paralelo, manteve uma rotineira pesquisa musical criando suas
músicas e canções e firmando uma carreira não apenas como instrumentista, mas
também como compositora.
Diego Silvestre é multi-instrumentista e
cantor cearense. Trabalha há 6 anos como guitarrista de várias bandas e
artistas em Fortaleza, tendo se apresentado nos principais palcos da cidade e
viajado também em turnê por vários estados do Brasil. Sua identidade na
guitarra vem da mistura de música experimental com o rock e a música
brasileira, buscando texturas, timbres e ritmos únicos.
Lorena Nunes é cantora, compositora, produtora
e um dos nomes mais celebrados da nova música do Ceará. Filha de pais
paraenses, nascida no Rio de Janeiro e criada em Fortaleza, seu timbre carrega
a mistura típica do Brasil e traz referências à música negra como o soul, o
reggae, o afrobeat, o samba e o jazz. Já se apresentou em diversas cidades
dentro e fora do Ceará, além de palcos internacionais em Cabo Verde, Espanha,
Itália, Portugal, França e Bélgica. Em 2024, seu primeiro álbum “Ouvi Dizer Que
Lá Faz Sol” celebra dez anos e faz par com o mais recente, “La Mar” (2020).
Multiartista, Luiza Nobel encontra a si na
interpretação e na performance de um corpo gordo e poético. Seu projeto “Preta
Punk”, com repertório autoral, transita pelos gêneros do soul, jazz, blues e
reggae, além de dialogar com a música pop produzida atualmente. Reúne as
músicas: Califórnia Neva, Suspeita, 365 dias, Estamos bem – sendo esta
produzida pela artista Mahmundi – e Let’s Burn, feat com Nego Gallo. O show é
um encontro de diferentes musicalidades com a narrativa autoficcional que
debate negritude, sexualidade, gênero, corpo e música.
Marcvs Av é produtor musical,
multi-instrumentista, engenheiro de som, compositor e arranjador. Atua há mais
de 15 anos nos ramos da música, cinema e teatro, já tendo colaborado com
artistas como Di Melo, Mumutante, Mateus Fazeno Rock, Verônica Valentino, Di
Ferreira, Jonnata Doll, Mallu Viturino e Nego Célio. Seus últimos trabalhos
foram de produção, arranjo, mixagem e masterização do EP “Gravura” de Georgez e
dos cinco singles de Agê, artista com quem trabalha na produção de seu primeiro
álbum, com lançamento previsto para 2024.
Thais Costa é percussionista, curadora musical e professora,
iniciou sua jornada musical nos pré-carnavais de Fortaleza em 2009. Em 2012,
fundou o bloco feminista Damas Cortejam, destacando-se como arranjadora
percussiva. Sua influência abrange da música afro-brasileira ao experimental.
Além de sua atuação como educadora, Thais colaborou com diversos artistas, como
Clau Aniz, Adna Oliveira, Carú-Lina, Luiza Nobel, Nayra Costa, Di Ferreira,
Lorena Nunes, Pantico Rocha, Fernando Catatau, Marcelo Jeneci, Tarcisio
Sardinha e Getulio Abelha.
Das encruzilhadas do Ceará, Zé de Guerrilla
usa seus sons como um pedido de passagem pelos caminhos abertos da
Latinoamérica. Compreendendo que conexões pelo nosso continente sempre foram
uma realidade das nações, Zé se dedica a investigar possibilidades de
combinações entre as musicalidades latinas, a fim de refletir sobre o cotidiano
vivo da cidade e as repetições das relações a partir da mistura de samples,
synths e beats.
*Ascom
Secult