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Mortes por intervenção policial triplicam no Ceará

Conforme a SSPDS, em 2017, foram 161 vítimas. Dentre elas, uma universitária sem antecedentes criminais

Paralelo ao crescente do número de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) no Ceará, um outro dado relacionado a mortes chama atenção. Conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), em um período de quatro anos, os casos de mortes por intervenção policial quase que triplicaram.Comparados os anos de 2013 e 2017, o número de mortes atribuídas à ação de policiais do Estado cresceram 292%. Enquanto há quatro anos, quando foi divulgado o primeiro levantamento da Pasta desta tipologia, 41 pessoas foram mortas pela Polícia, no ano de 2017, data da última estatística consolidada, foram registradas 161 mortes.O aumento também é observado mesmo quando comparado menores períodos. De 2016 a 2017, houve uma crescente de 47,7%. Na avaliação do sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Leonardo Sá, o aumento pode ser explicado a partir de um círculo vicioso.“Quando começam a aumentar confrontos entre criminosos e policiais utilizando armas pesadas, acontece o que a gente chama de dupla escalada da violência, o popular círculo vicioso. Os bandidos agem com alta violência e a Polícia responde com alta violência”, disse o especialista.Casos recentesAo longo do ano de 2017, casos envolvendo quadrilhas e policiais repercutiram na imprensa. Em 11 de julho do ano passado 10 criminosos que tentavam roubar malotes de dinheiro em espécie que estavam sendo recolhidos de uma Casa Lotérica, localizada dentro de um supermercado, no Mondubim, foram surpreendidos por policiais civis.O resultado da ação foram quatro mortos e três feridos. Dentre os lesionados, um delegado. Todas as mortes aconteceram quando iniciada a troca de tiros entre equipe da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) e assaltantes. Um dos mortos era um cidadão, que estava na fila da lotérica, e foi utilizado como escudo humano pela quadrilha.Leonardo Sá lembra que, mesmo em minoria, em meio às mortes em confrontos com a Polícia, há vítimas que não têm relação com a criminalidade. A exemplo dentro da soma das 161 mortes contabilizadas em 2017, está o caso da universitária Shyslane Nunes de Sousa.Aos 24 anos, a estudante foi atingida por três disparos de arma de fogo nos arredores da sua casa. Conforme a família da vítima, a versão inicial dos policiais militares responsáveis pelos disparos era que na noite do dia 14 de março de 2017, Shyslane participava de um trio que praticava assaltos na região do Conjunto Industrial, Maracanaú. Dias depois, testemunhas contaram em depoimento que Shyslane, sem antecedentes criminais, era uma vítima dos ladrões, e não suspeita, do assalto no entorno da sua residência. Após cinco meses, em 24 de setembro de 2017, veio o resultado do laudo da Perícia Forense do Ceará: os projéteis que atingiram a estudante partiram de um policial militar.“É um erro pensar na Segurança Pública como apenas uma questão de Polícia. Eles vão para as ruas preparados para encontrarem os piores suspeitos. É aí que morrem os inocentes. A questão da violência vai além de algo entre Polícia e bandido”, diz o sociólogo Leonardo Sá.No início da noite de ontem, a reportagem entrou em contato com a SSPDS e questionou o aumento nos números e o treinamento ofertados aos policiais, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
 
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